A noite começa como muitas. As buzinadas no ponto de ônibus, a espera do transporte.... Sem filas na porta, os desconfiados do lado de fora “pagando pra ver” se a casa vai lotar. Nada como freqüentar um mundinho noturno reduzido, é chegar e entrar. E ver vários rostos conhecidos, vários mesmo. Será que já conheço todos? Será que todos já me conhecem? Que importa?
Minhas previsões estavam certas. A coisa vai enchendo lentamente, à espera da hora certa pra começar o show. A iluminação fraca, bem escura, um presente pra nós. A cidade grande acabou com a escuridão, não é mesmo?
O desfile prossegue enquanto a banda não começa. Há quem não consiga ficar parado dez minutos num lugar. Calma, é apenas uma noite, haverá tantas... Só não consigo compreender por que aqui há homens que deixam de ser homens e mulheres que deixam de ser mulheres, por que viram machos e fêmeas... Não que eu seja cega, mas meu timing é outro.
Tomo um drink e começo a pensar na vida... (começo?) e lá vem as criaturas indo e vindo. Eu e meus amigos procuramos o melhor lugar. A banda vai começar. Cabelos e roupas tal qual, banda cover. Vozes afinadas, arranjos buscando o tal qual, banda cover. Minha cabeça fica dando voltas. Fico pensando o que leva alguém a representar outra pessoa ao invés de criar. Teatral? Talvez... Os gestos copiados, o virar de cabeça, o tom da voz. Ah, mas imitamos todos uns aos outros. Basta olhar para o lado e ver os trajes. Tantos parecidos. Alguns tem vinte e poucos anos. Acreditam que basta vestir uma roupa diferente, e pronto. Ah, Huxley, estava certo. Somos betas e gamas e deltas enganados.
Sim, eles tem vinte e poucos anos. E eu fico pensando que vão para casa e não têm de pagar as contas do mês. E fico pensando que você tem de pagar as contas do mês. Como eu. A banda cover prossegue, mas tem quem nem ouça. Um sujeito passou a noite toda em silêncio. Olhava o chão, olhava as pessoas. Será que queria companhia? A banda cover prossegue. Algumas mulheres ganham o palco. A vaidade ainda é tão feminina... Você entra e sai. Sai e entra. Seus amigos o rodeiam. Mas às vezes você só queria ficar só, não é? Ter o silêncio da música ecoando dentro do seu pensamento. Isso pode ser tão caro, não?
A banda cover termina, e vamos ao café. A televisão do café mostra um vídeo. Adivinha qual? Um da banda original. Círculo fechado. Imitações e imitados. Hoje fui eu que fiquei apontando meu dedo crítico pra tudo. Afinal, a insatisfação também pode ser divertida. Não criticamos o que não conhecemos.
Agora é tarde. Já invoquei você aqui. Não colocarei seu nome. Todos sabem. Mas não sabem quem você é. Jamais. Sabem os nomes, mas não quem somos.
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